segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A decisão de não publicação do livro "The Jewel of Medina", de Sherry Jones, pela Random House e pela Porto Editora – implicações no mundo editorial


Apresentação do tema

         Aquilo que pretendo discutir neste ensaio são as consequências e as implicações editoriais decorrentes da decisão de editar ou não um livro polémico como The Jewel of Medina, de Sherry Jones.
Sherry Jones, jornalista profissional desde 1979, foi vencedora de inúmeros prémios e a sua obra publicada em revistas como Newsweek, CMJ, Southwest Art e Rider. É correspondente dos estados de Montana e Idaho do Bureau of National Affairs, uma agência noticiosa internacional da região de Washington, D.C., e correspondente da Women's e-News. The Jewel of Medina é o seu primeiro romance.
Apesar de nunca ter visitado o Médio Oriente, a autora, movida pelo interesse pelos muçulmanos após os atentados de 11 de Setembro de 2008, passou vários anos a estudar história árabe, pesquisando sobre o profeta Maomé e leu estudos sobre Aisha, uma das mulheres do profeta. Decidiu então escrever o seu romance para dar a conhecer ao ocidente a essência do Islão e mostrar como este foi distorcido pelos radicais islâmicos. Sobre a situação das mulheres no Islão, afirma que Maomé apoiou mais direitos para as mulheres do que muitos dos seus seguidores modernos. A autora afirma que escreve conscienciosamente sobre o Islão e sobre Maomé de uma forma respeitosa e refere que queria contar a história das mulheres em torno de Maomé, honrá-las, bem como o profeta.
The Jewel of Medina é um romance que conta a linda história de Aisha, desde o seu casamento com Maomé, aos nove anos, até à morte do profeta. É uma história de amor e intrigas passada no século VII, por altura do nascimento da fé islâmica, um período de convulsões. O livro aborda o tema da emancipação das mulheres através de Aisha que usa a sua sabedoria, coragem e a espada para ter o controlo da sua própria vida, combater a perseguição religiosa, os seus rivais e defender o estatuto de primeira mulher de Maomé, ainda que o profeta se continue a casar mais do que uma vez. Aisha acompanha devotamente Maomé na maior parte do romance, aconselhando-o, e acaba por se tornar uma das mais importantes mulheres do Islão, defensora acérrima do legado de Maomé.


Publicação controversa
           
O processo de publicação de The Jewel of Medina tem sido controverso e cheio de contratempos. Segundo informações da autora à Reuters, a Random House, uma das maiores editoras dos Estados Unidos, já tinha pago 69 mil euros a Sherry Jones pelo romance e por uma segunda obra. A publicação da obra estava prevista para 12 de Agosto de 2008, estando também preparada uma digressão publicitária do livro por oito cidades quando rompeu o contrato. Apesar do livro ter tudo para se tornar um best-seller, a editora acabou por recusar a sua publicação, depois de a ter adiado.
A decisão da editora veio a público na coluna de Asra Nomani, escritora e académica muçulmana, no jornal norte-americano The Wall Street Journal. No seu artigo, Nomani afirma que, numa entrevista, o subeditor da Random House, Thomas Perry, representante da editora, informou que a empresa fora aconselhada a ter em conta, «não apenas que a publicação deste livro poderia ser ofensiva para alguns membros da comunidade muçulmana, como também incitar à violência por parte de um segmento pequeno mas radical»[1], acrescentando que, depois de consultar vários especialistas em Islamismo, a empresa decidiu, « adiar a publicação, para segurança do autor, dos empregados da Random House, dos livreiros e de qualquer outra pessoa que esteja envolvida com a distribuição e a segurança do romance. »¹ A autora do artigo afirma que Denise Spellberg, professora de História e Estudos do Médio Oriente da Universidade do Texas e especialista em Aisha, teve um papel fundamental na censura à publicação do livro e que alertou a editora para os perigos de uma reação de violência islâmica ainda maior do que a da publicação do livro Satanic Verses, do escritor Salman Rushdie, em 1988; ou os cartazes dinamarqueses com caricaturas de Maomé. Numa entrevista Denise Spellberg afirmara que o livro de Sherry Jones abusava dos factos históricos distorcendo-os, transformando uma história sagrada em pornografia softcore. Spellberg frisou depois no jornal americano Wall Street Journal que a decisão tinha sido tomada com base no parecer de vários estudiosos e considerou que o romance de Sherry Jones era uma representação errónea da vida de uma mulher real, Aisha, e do passado islâmico, que usa o sexo e a violência para atacar o profeta e a sua fé. Condenou ainda o caráter polémico e sensacionalista do livro por usar o sexo e a violência para vender o livro.
Porém, em meados de Agosto, Martin Rynjia, 44 anos, editor da editora independente Gibson Square, anunciou que iria publicar o livro no Reino Unido. Em Setembro foi encontrada uma bomba em sua casa, em Islington, norte de Londres. A polícia inglesa, que já estava de sobreaviso, prendeu de imediato os suspeitos da tentativa de fogo posto. O pequeno incêndio foi apagado imediatamente e ninguém ficou ferido. Os suspeitos foram acusados de « participação, preparação e incitação a actos de terrorismo »[2], por tentar provocar um incêndio no escritório da editora Gibson Square, segundo a polícia britânica. O editor da Gibson Square esteve sob proteção policial. Martin Rynjia tem mostrado muita coragem e persistência ao levar avante a publicação da obra. Entretanto, o livro foi publicado em Outubro de 2008 pela editora britânica independente, depois de ter sido adiado por represálias. The Jewel of Medina teve o seu lançamento no Reino Unido a 30 de Outubro. Martin Rynja, citado em El país classificou de imperativo o lançamento do livro, afirmando em comunicado :

« Senti imediatamente que era imperativo publicar o livro. Numa sociedade aberta tem de haver acesso livre a obras literárias apesar do medo. Como editora independente sentimos que não devemos ter medo das consequências do debate. Se um romance de qualidade lança luz sobre um lindo assunto do qual pouco sabemos no ocidente, mas temos um genuíno interesse nele, e não pode ser lançado cá, então isso realmente significa que o relógio retrocedeu até à idade das trevas. The Jewel of Medina tornou-se um importante barómetro do nosso tempo ». [3]

            A Gibson Square conta com outros trabalhos polémicos publicados, como o livro Blowing up Rússia (2002), escrito por Alexandre Litvinenko, o espião russo assassinado por envenenamento em Londres em 2006 com uma substância radioativa; If I Did It (2007), de O. J. Simpson; e Hard Call (2009), do senador republicano e veterano de guerra John McCain, ex-candidato às presidenciais nos Estados Unidos.
            Em Portugal ainda não foi publicado o livro de Sherry Jones. A Porto Editora, que analisou o livro, recusou em Setembro de 2008 a sua publicação. Ana Barros, editora da DEL-L, tinha assegurado ao Ípsilon [suplemento do jornal Público] que « se decidirmos que o livro vale a pena publicar porque é interessante não vamos pensar nas consequências políticas ». Segundo o comunicado de imprensa da editora portuguesa, pela voz de Manuel Alberto Valente diretor da Divisão Editorial Literária de Lisboa (DEL-L), da Porto Editora, a decisão de não publicar o livro não foi influenciada pela desistência da editora americana: « a Administração da Porto Editora assegurou-me, desde o início do processo, o apoio imprescindível para uma decisão livre, sem quaisquer receios e de acordo com os critérios definidos. Se a decisão fosse a de editar o livro, não haveria quaisquer hesitações »[4]. A decisão baseou-se no parecer extremamente desfavorável redigido por um dos consultores editoriais da Porto Editora, a quem o diretor pediu a análise do original. Segundo Manuel Valente, A Jóia de Medina é « um romance vulgar, pobremente escrito e pouco convincente nas suas personagens e enredo»[5]. Manuel Alberto Valente afirma que esta é uma « decisão de particular relevância, pois tínhamos possibilidade de lançar um livro com um enorme potencial comercial. Acabou por pesar o critério fundamental, o da qualidade literária ». [6] Eis um excerto do parecer de leitura:


I would not publish this.
I look at it from two points of view:
First, as a novel, it is trite, poorly written and unconvincing in its characters and its plot. It reads like a poorly researched item in the popular press, or a story in a low-quality women’s magazine. Second, as a piece of religious provocation, it has the potential to cause outrage – not because it is particularly offensive concerning Mohammed or Islam, but because it appears to be so inaccurate historically, that it seems to deliberately trivialise the Prophet and the religion. Unlike Satanic Verses, which has a base in serious literary philosophy, this reduces Mohammed’s life and work, through this banal story about one of his wives, to the level of schoolgirl fiction. I have to imagine that Ms Jones has done this consciously. At best, it is in poor taste; at worst, offensive.[7]

O excerto apresentado aponta duas razões para a não publicação do romance: por um lado a obra consiste num romance vulgar, pobremente escrito e pouco convincente nas suas personagens e enredo; por outro pode causar ultraje, não tanto pelo tratamento ofensivo de Maomé e do Islão, mas porque perverte a realidade dos factos históricos, trivializando a vida do profeta e a religião.
O romance foi publicado nos Estados Unidos pela editora Beaufort Books em Outubro de 2008. A Beaufort adiantou, segundo a BBC, que publica a obra para que o livro possa ser apreciado pela sua qualidade literária e não como uma potencial ofensa aos muçulmanos. Eric Kampmann, presidente da Beaufort Books afirma « Achámos que era o melhor para toda a gente... deixar que a conversa sobre o livro deixasse de ser a dos terroristas e passasse a ser a do mérito do livro ».[8]  Nos Estados Unidos a tiragem inicial ronda os 40 mil exemplares. Para além do Reino Unido e dos EUA, o livro já foi publicado na Sérvia e tem os direitos vendidos para Itália, Espanha, Hungria, Alemanha, Brasil e Macedónia. O livro já está a gerar polémica e, consequentemente, muitas vendas. Já é comparado à « crise religiosa » de Os versículos satânicos, ou aos cartoons dinamarqueses.


Receio da reação da comunidade muçulmana vs liberdade de expressão

A editora Random House não publicou o livro por receio de represálias por parte da comunidade muçulmana radical. Na verdade, no entender dos fundamentalistas, a representação das figuras sagradas é uma ofensa, sobretudo quando estas são subvertidas. Quando entendem que Maomé e a fé islâmica estão a ser atacados organizam manifestações, protestos e violência, em nome da religião muçulmana.
No mundo islâmico não há separação entre as leis e a religião muçulmana (sharia), a qual é frequentemente mal-interpretada e distorcida pelos fundamentalistas, em nome de Alá e da fé muçulmana. Na verdade, o alcorão não é tão restritivo para com as mulheres quanto os mais fanáticos querem fazer crer. Por exemplo, o Islão não proíbe as mulheres de trabalhar, atribuindo apenas um papel importante à mulher no desempenho das funções domésticas e familiares. A religião islâmica também permite às mulheres que se divorciem dizendo três vezes em público « eu divorcio-me ». 
Apesar da religião muçulmana não considerar a mulher um objeto, em muitos países islâmicos as mulheres são tratadas como tal, não usufruindo dos mesmos direitos que os homens. Na Arábia Saudita as mulheres não podem conduzir, mas no Bangladesh e no Paquistão já é permitido que as mulheres conduzam. No Paquistão, basta a suspeição de uma mulher poder ser adúltera, ou vítima de violação, para ser punida de uma forma hedionda, ao passo que, em iguais circunstâncias, os homens não sofrem os mesmos horrores. Neste país várias mulheres ativistas têm perdido a sua vida por protestar contra a injustiça das leis da sharia. No Irão, que tem leis muito rígidas em relação ao vestuário das mulheres e à sua conduta, há perseguições às mulheres, que frequentemente são espancadas e aprisionadas caso ousem afrontar as regras. No Afeganistão um homem muçulmano pode casar-se com uma menina de 12 anos se assim o quiser, uma vez que isso é aprovado pelos mullahs (líderes religiosos de mesquitas islâmicas). Muitas mulheres muçulmanas fogem dos seus países de origem para fugir às leis tirânicas islâmicas.
Em 2006 houve uma onda de violência na Europa e em vários países muçulmanos por causa das caricaturas de Maomé, publicadas inicialmente num jornal dinamarquês em 2005, que foram depois publicadas em vários países da Europa, como França, Espanha, Itália e Noruega. Houve manifestações da parte da comunidade muçulmana contra a publicação das caricaturas de Maomé, tendo morrido mais de uma dezena de pessoas durante esses protestos. Os fundamentalistas chegaram a apelar explicitamente ao assassinato dos autores das « blasfémias ». Foram atacadas e incendiadas por manifestantes embaixadas europeias e houve a tentativa de assassinato de um dos cartoonistas. A intolerância dos elementos mais radicais muçulmanos perante a liberdade de expressão ocidental e o seu fanatismo conduzem à violência. Os fundamentalistas não toleram que a sua religião seja posta em causa, partindo para a « guerra santa », cometendo um rol de atrocidades, queimando, apedrejando e assassinando. Enquanto nas sociedades ocidentais é reconhecida a liberdade de expressão e de imprensa, nos países islâmicos mais radicais ela não é permitida, havendo censura sempre que a religião é posta em causa.
Tendo em conta os argumentos da Random House para justificar a não publicação de The Jewel of Medina, vejamos alguns exemplos da reação de extremistas islâmicos perante publicações polémicas: Salman Rushdie, escritor indo-britânico, recebeu a 14 de Fevereiro de 1989 uma fatwa (édito religioso) de condenação à morte pelo líder religioso do Islão, Ayatollah Khomeini, relativamente ao livro Versículos Satânicos (Satanic Verses no original), de 1988. O livro, polémico, refere-se a uma discutida tradição muçulmana segundo a qual Maomé acrescentou versículos de inspiração diabólica ao Alcorão, que mais tarde retirou ao perceber a sua maléfica influência. Causou controvérsia imediata no mundo islâmico, pelo que originou, para além da fatwa, imensos protestos, manifestações e atos de violência em todo o mundo, incluindo o incêndio de livrarias e queimas do livro, considerado « blasfémia contra o Islão », tendo sido banida a sua publicação em muitos países com grandes comunidades islâmicas. Para além disso, Khomeini, que governava o Irão, condenou Rushdie pelo crime de « apostasia » - fomentar o abandono da fé islâmica – que, de acordo com a hadith (corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida de Maomé), é punível com a morte. Foi anunciado a todos os muçulmanos o dever de assassinar o escritor e os editores do livro conscientes do seu conteúdo, conforme a fatwa. Devido a estes factos, Rusdhie foi forçado ao exílio e a viver sob proteção policial por muitos anos. O tradutor japonês do livro foi assassinado, o tradutor italiano sobreviveu a um ataque e o editor norueguês sobreviveu a quatro tiros. No entanto, a editora Viking Penguin, tendo recebido inúmeras ameaças de bomba, continuou a publicar o livro em capa dura, mas hesitou em lançar a versão livro de bolso. Na altura, surgiram muitos intelectuais indignados, condenando os “ayatolahs” (fundamentalistas islâmicos). Vinte anos depois de Versículos Satânicos, Rushdie fez fortes críticas à sua editora, Random House, após esta ter mudado de ideia e ter resolvido não publicar o livro de Sherry Jones por medo de retaliação dos muçulmanos, considerando a sua atitude censura através do medo. Taslima Nasreen, nascida no Bangladesh, é outro exemplo de escritora condenada pelos fundamentalistas islâmicos. Tem escrito sobre o tratamento das mulheres pelo Islão, nomeadamente dos abusos sexuais de que são vítimas. As suas perspetivas feministas são vistas como críticas ao Islão e à religião em geral, pelo que sofreu várias ameaças de morte, vivendo frequentemente em exílio. Naguib Mahfu, escritor nascido no Cairo, Prémio Nobel da Literatura em 1988, também foi condenado pelos fundamentalistas islâmicos pela publicação, em 1959, do romance Os filhos do nosso bairro, Children of Gebelawi na tradução inglesa. O livro foi banido no Egito devido à controvérsia levantada pelo recurso a personagens alegóricas, representando Alá, personagens bíblicas (Caim e Abel) e profetas do Islão, entre os quais Maomé, Moisés e Jesus. Em 1994, na sequência dos apelos de um clerical islâmico radical para que o autor fosse morto por blasfemar nos seus livros contra a religião muçulmana, foi esfaqueado no pescoço por um fundamentalista islâmico, enquanto saia da sua casa no Cairo. Estes são alguns exemplos de escritores que geraram polémica por abordarem a religião muçulmana criticando os aspectos mais condenáveis do fanatismo e por representarem figuras sagradas. Apesar de terem sofrido as ameaças dos islâmicos radicais, foram acolhidos pelo ocidente em defesa da liberdade de pensamento e expressão.
A decisão de publicar um livro que romanceia factos históricos e religiosos ou não o publicar é polémica, tendo em conta o historial de reações a obras publicadas alusivas à religião muçulmana e o historial de condenações de autores acima descrito. A atitude da Random House de não publicar o romance em torno de Maomé e Aisha por receio das repercussões que poderia ter na segurança de todos os envolvidos na publicação e venda do livro é, portanto, compreensível.
A polémica em torno da « blasfémia » (segundo os islâmicos radicais) imbrica na liberdade de expressão, pois, de acordo com o fundamentalismo islâmico está limitado todo o tipo de expressão e representação de figuras sagradas islâmicas, incluindo a criação literária. Os ofendidos com The Jewel of Medina são sobretudo os fundamentalistas islâmicos que não toleram a representação de figuras religiosas, nem que a sua religião seja posta em causa nem criticada. Enquanto que no Ocidente já se aprendeu a tolerar as críticas e a aceitar a liberdade de expressão e a livre criação literária e ficcional, os fundamentalistas islâmicos não toleram essa mesma liberdade de criticar a sua fé e o seu profeta, fazendo ameaças, atentados, lançando fatwas a quem enfrentar o fanatismo.
Ao não publicar o livro de Sherry Jones, a Random House está a ceder ao terrorismo islâmico para assim assegurar a segurança de todos os envolvidos na publicação do livro e a não proporcionar a leitura de mais uma obra literária que romanceia a vida de figuras históricas com uma posição relevante na religião muçulmana, como Aisha, considerada a mãe dos crentes islâmicos, e o profeta Maomé. A história poderia ter o seu interesse enquanto ficção. Coloca-se, sem sombra de dúvida, o problema da liberdade de expressão, uma vez que a editora foi impelida a não publicar o livro por haver um segmento da população que poderia reagir violentamente. Por outro lado, devido ao receio da reação da comunidade muçulmana mais radical, a editora perde uma oportunidade de vender um livro com potencial comercial que daria lucros à editora. 
A história tem-nos provado que a denúncia dos horrores e das injustiças e a luta pelos valores universais, entre os quais a liberdade de expressão (pelo menos para o mundo ocidental) concorrem para a formação de uma nova mentalidade e, consequentemente, para a evolução da sociedade. Um exemplo disso é a evolução do feminismo ao longo da história no ocidente, as conquistas que as mulheres ocidentais foram obtendo. Se os escritores acima referidos como denunciadores e críticos do fundamentalismo através da escrita não tivessem escrito sobre esses males, não haveria a esperança de que alguma coisa pudesse mudar no mundo islâmico. A publicação de livros sobre a vida dos muçulmanos, o fanatismo e as injustiças, nomeadamente para com as mulheres, os seres mais vulneráveis para a lei islâmica, é, sem dúvida, um contributo para a liberdade de expressão e para a consciencialização dos abusos da parte dos membros dirigentes e suas leis. O mesmo se passa em relação às obras que ficcionam a vida de Maomé.
O escritor e poeta Marwa El-Naggar do “IslamOnline.net” chegou a defender a publicação de The Jewel of Medina em defesa da liberdade de expressão e da criação literária, ainda que reconheça os desvios da autora face à história.


Qualidade literária da obra vs impacto comercial

A Porto Editora recusou a publicação do romance com o argumento da qualidade literária. Se lermos com atenção o comunicado do consultor da Porto Editora sobre o livro, ficamos a saber que a recusa é justificada pela deturpação de factos históricos, pelo carácter provocador e pela trivialização da vida do profeta e do islamismo. O consultor da editora considerou que o livro podia ser considerado ofensivo. Não há qualquer referência ao receio de violência por parte da comunidade muçulmana mais radical.
Teoricamente, um bom editor deve escolher os melhores livros a fim de chegar ao maior número de leitores. No entanto, a qualidade literária não é o único argumento válido para o mundo editorial, pois o mundo editorial é um negócio e todas as editoras desejam ter lucro e nem sempre os livros com maior qualidade literária são os mais vendidos, excetuando os casos de autores reconhecidos como José Saramago, António Lobo Antunes ou Miguel Sousa Tavares. A decisão de editar ou não um livro pode não ter que ver com o gosto e a vontade dos editores, pois é necessário estar atento às tendências do mercado, acompanhar os gostos dos leitores e perceber o impacto comercial que cada livro poderá ter. Na verdade, as editoras também estão sujeitas às modas e, se querem ter sucesso, devem ter em conta os livros que mais vendem, apostando num trabalho de seleção de livros a publicar feito com todo o rigor, prevendo se o livro é vendável. Numa altura em que está tanto na moda os livros sobre temas muçulmanos (mulheres oprimidas, crianças mal tratadas, a religião islâmica), The Jewel of Medina poderia ser um caso de sucesso editorial, tal como Manuel Alberto Valente afirma. No entanto, para a editora, o critério da qualidade literária e o facto de poder ser ofensivo para a comunidade muçulmana teve mais peso do que o valor comercial do livro. Na verdade, a formação, os princípios e os valores também não estão ausentes do mundo dos livros pois editar livros não é só para dar lucro e todo o editor gosta de editar livros de que se orgulhe.
A recusa da publicação do livro de Sherry Jones foi justificada com o critério de qualidade literária. Parece-me, no entanto, que este argumento perde peso perante o catálogo da Porto Editora. Apesar de ser uma referência a nível de material didático, é errado pensarmos que apenas publica potenciais Prémios Nobel da Literatura, pois, se virmos o catálogo, apercebemo-nos que publica também muita literatura de pouca qualidade. Da lista de livros publicados encontra-se o livro Vocês sabem do que estou a falar, de Octávio Machado (ex jogador e treinador do Porto e do Sporting); São Cipriano, de Cipriano, o feiticeiro; Eu Sou o Poder da Mente, de Aldina Rocha; Luiz Felipe, o Homem Por Trás de Scolar, de José Carlos Freitas e O Código Quique (treinador do Benfica), de Rui Pedro Brás. Conhecendo nós a frase de Manuel Alberto Valente « É preciso publicar o que dá para poder publicar o que não dá », torna-se estranho que não tenha aceitado publicar uma obra como The Jewel of Medina. Ainda que o livro de Sherry Jones tenha sido considerado trivial e menosprezando o caráter histórico e religioso do profeta Maomé, este poderia ter sido editado pela Porto Editora, tendo em conta as suas publicações.
Um aspeto a ter normalmente em conta pelas editoras quando editam um livro é saber se é a primeira obra do autor. No caso de The Jewel of Medina, é o primeiro romance da autora e não sabemos se este critério terá tido algum peso para Manuel Valente, que poderá ter considerado arriscada a sua publicação e por isso ter aceitado a opinião do consultor. Porém, depois da polémica surgida nos EUA a propósito do livro de Sherry Jones, a publicidade ao livro estava feita e muitos leitores estariam curiosos para conhecer o livro e o número de vendas seria grande.
Será que o livro é realmente pobre a nível literário e de escrita? A Beaufort Books considera que o livro tem a sua qualidade literária.
A divergência de opiniões sobre o livro de Sherry Jones tem que ver com o facto de um bom livro não ter o mesmo significado e valor para um editor ou para outro (Les métiers de l’Édition, 2002). Tanto a Random House como a Porto Editora entenderam que The Jewel of Medina não tinha qualidade literária para ser publicado e a Random House assumiu o receio de represálias pelos muçulmanos radicais. Do outro lado estão as editoras Beaufort Books e Gibson Square que entenderam por bem publicar a obra, considerando ambas que a obra tem qualidade literária e interesse pelo conhecimento da história árabe (dentro do que há de verídico na obra) e pela perspetiva aberta sobre o mundo oriental. A Gibson Square defendeu convictamente a liberdade de expressão e de criação literária.
Para a Beaufort Books, a autora revela falta de conhecimentos históricos básicos, mas revela também exatidão e respeito pelo Islão na sua história. A editora considera que a autora toma uma grande liberdade ao representar a História, adaptando-a do modo que melhor convinha ao desenvolvimento do romance.
The Jewel of Medina é um romance histórico. Como se define um romance histórico? O romance histórico é uma narrativa literária ou artística sobre factos históricos reais ou inventados a partir de categorias estéticas. Não é a representação da narrativa histórica científica, mas um produto artístico de caráter ficcional por misturar acontecimentos verdadeiros (históricos) com outros ficcionados, sendo por isso um género ambíguo. Enquanto produto artístico e estético, a sua finalidade é proporcionar o prazer estético da escrita e da leitura, aliado ao conhecimento da história. O romance histórico não é uma réplica exata dos factos históricos, pois não está obrigado à verdade, tendo liberdade para explorar esteticamente os factos históricos e as suas possibilidades. Não fazem, portanto, sentido, na definição de romance histórico termos limitadores como “fidelidade”, “verdade aproximada”, “reprodução” ou “reconstituição”, “dados rigorosamente históricos”. Neste sentido, não existem limites ficcionais para o romance histórico.
A autora reconhece os desvios dos factos históricos e conta que inicialmente tinha previsto um enredo mais fiel à história de Aisha e Maomé, mas que o editor a aconselhou a alterá-lo porque não seguia as caraterísticas de um romance. Defende-se ainda dizendo que a ficção se encontra no domínio da realidade que é subjetiva e, como tal, a obra não podia ser uma réplica exata dos acontecimentos históricos. The Jewel of Medina apenas tem de respeitar as caraterísticas próprias do seu género, um romance histórico.
Abordaremos alguns exemplos de passagens em que a autora não segue aquilo que é referido como verdade nos documentos históricos. Segundo os relatos históricos, num dia em que Aisha e o profeta se deslocavam numa caravana, Aisha perde acidentalmente o seu colar, voltando para trás para o apanhar. A caravana avança sem que Maomé se aperceba de que ficara para trás. Entretanto, um homem, Safwan ibn Al-Mu’attal, leva Aisha para sua casa, um tanto a contragosto dela. Aisha é depois acusada de adultério. No livro, a autora transforma estes factos para tornar a história mais atraente: Aisha estava apaixonada por Safwan ibn Al-Mu’attal e diz a Maomé que tinha perdido o colar para poder voltar atrás e fugir com o seu amado. Mais tarde apercebe-se do quanto estava errada e volta para Maomé.
Denise Spellberg considera que as cenas de amor entre Aisha e Safwan ibn Al-Mu’attal não correspondem à realidade e considera-as de mau gosto e sensacionalistas. Antes de mais, a posição de Spellberg revela um juízo de caráter estético e ético. Os valores são outro campo que tem necessariamente implicações na decisão de publicar ou não livros, dado o papel cultural e espiritual do livro. Se o editor considerar um livro que lhe foi entregue para analisar um mau exemplo, condenável ou com efeitos perversos na sociedade, sendo livre de publicar ou não esse livro, o editor não o irá publicar. A autora justifica a sua opção dizendo que usou a relação de Aisha e Safwan ibn Al-Mu’attal como uma metáfora pois pretendia mostrar o quanto Aisha tinha amadurecido, deixando de ser uma mulher controlada pelos homens e suspirando por eles para se transformar numa mulher com o controlo da sua própria vida, mais consciente e com mais sabedoria. Para Spellberg, o romance, devia respeitar os factos históricos e não optar por uma representação errónea da vida de Aisha e por uma estratégia de marketing baseada no sensacionalismo.
Uma outra metáfora utilizada por Sherry Jones está associada à espada que Aisha enverga no romance. A história islâmica não representa em nenhum momento Aisha com uma espada, nem tal seria possível. A autora justifica a sua opção referindo que a espada é uma metáfora que simboliza o amadurecimento de Aisha.
Uma outra passagem criticada pela académica por não ser fiel à realidade é quando Aisha disputa a posição de hatun (a chefe das mulheres de Maomé), pela qual tem obsessão e que é uma tradição turca sem qualquer base no Islão. Quando alcança esse estatuto, o profeta e as suas outras mulheres ajoelham-se perante Aisha, que também não faz parte da cultura islâmica. A autora defende a passagem dizendo que este é um estratagema próprio da ficção, que importou da tradição turca para mostrar a rivalidade dentro do harém.
Para Denise Spellberg é preocupante o facto da autora ter posto na boca de Aisha uma história que não é verdadeira, que falsifica a realidade como sendo a história da personagem. No entender desta académica não é correcto distorcer factos históricos
Aisha é representada como se vivesse no século XXI pois possui determinadas caraterísticas impossíveis para o século VII e muito menos no mundo oriental. Aisha aparece muito ocidentalizada pois sonha com a liberdade, o poder e o controlo da sua própria vida, não aceita o casamento que lhe foi imposto e que a reduz a objecto, não aceita a reclusão, que não se aplicava na era islâmica, não aceita o hatun nem o durra (a segunda mulher) nem aceita a superioridade dos homens sobre as mulheres.
Instigado por Umar Al-Khattab, Maomé obriga as suas mulheres a cobrir a cara, depois de ter sido lido o versículo respeitante ao véu. Aisha sente que lhe foi roubada a liberdade. A autora considera que Aisha pode ter pensado dessa maneira e afirma que, ao escrever o romance, teve a intenção de a representar como um modelo de mulher, e mostrar que as mulheres tinham mais poder na era da formação do Islão do que habitualmente pensam os ocidentais, afirmando ainda que tinham mais poder do que atualmente.
Outro motivo de crítica é o facto da autora ignorar a representação utópica do período da formação do islamismo, que não tem em conta as maquinações políticas e históricas da época e representar as personagens islâmicas como humanas com seus defeitos e fraquezas, salientando os defeitos.
Outra falha da autora, segundo as vozes críticas, tem que ver com a personagem Caliph Umar ibn al-Kattib, conhecido na história árabe por ser muito restrito com as mulheres e por ter participado na primeira guerra civil islâmica. No romance de Sherry Jones é um vendedor de chapéus de mulher, ávido de poder.
O romance faz crer aos leitores que os casamentos de Maomé mais não são que um capricho para satisfazer a luxúria do profeta. As mulheres são representadas como de uma grande beleza, cada uma tem a sua cor de olhos e de cabelo e provêm das mais diversas partes do mundo. A autora afirma que se os leitores têm esta impressão é porque este é o ponto de vista de Aisha, que revela ciúmes ao longo do romance.
O romance mostra-nos uma Aisha que nada tem a ver com um anjo, ciumenta, de acordo com os relatos históricos, mas o facto da personagem ser representada como  « impulsiva, egocêntrica, mentirosa e vingativa que quebra as suas promessas e só deseja a glória no campo de batalha »[9] não corresponde à verdade, uma vez que Aisha é historicamente reconhecida como sendo sincera e honesta.
Em suma, os argumentos de Denise Spellberg contra a publicação do livro prendem-se com o facto da história ser uma falsificação dos factos históricos e da personagem de Aisha, dando uma imagem errada da religião e da história islâmica a todos os que não as conhecem bem.
Se no entender da especialista em Aisha esta é uma história falsa que engana todos os que ignorem a personagem, distorcendo a realidade e a essência da personagem e, consequentemente a imagem da religião, a Beaufort Books e a Gibson Square entendem que é legítimo ficcionar a partir de personagens históricas. Em causa está não só a questão do género literário da obra, mas também a questão da liberdade de expressão e de criação literária.
Ainda que haja muitas passagens no livro que não podem ser entendidas como pertencendo à realidade histórica, também fazem parte do livro passagens que têm em conta a verdade histórica. Um exemplo disso é a representação de Maomé como um líder sabedor, amável, compassivo, pela igualdade e não violento. Não podemos negar que a história de Sherry Jones, feita a partir de factos históricos é uma reinvenção, uma outra história, ficcional, que pode ser apreciada pela sua grande beleza e valor literário.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LEGENDRE, Bertrand, Les Métiers de l’Édition, Paris: ECL, 1999.

« The Jewel of Medina, a fictionalized version of the life of Lady Aisha, has reopened the debate on portraying Islam’s sacred figures »
in   « Beaufort Books », 16  de Outubro de  2008,  <  http://www.beaufortbooks.com/news. php?id=44 >   (acedido   em  19   de Fevereiro  de 2009).
  
» Gibson Square buys Jewel of Medina for UK » in « Bookseller.com », 4 de Setembro de 2008, < http://www.thebookseller.com/news/6_6332-gibson-square-buys-jewel-of-medina-for-uk.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009.)

 « The Jewel of Medina, a fictionalized version of the life of Lady Aisha, has reopened the debate on portraying Islam’s sacred figures »
in The Wall Street Journal, 9 de Agosto de 2008, < http://online.wsj.com/article/ SB121824366910026293.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

« I Didn't Kill 'The Jewel of Medina' »
in The Wall Street Journal, 9 de Agosto de 2008, < http://online.wsj.com/article/SB121824 366910026293.html?mod=googlenews_wsj > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
  
« You Still Can't Write About Muhammad » in The Wall Street Journal, 6 de Agosto de 2008, < http://online.wsj.com/article/SB_121797979078815073.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).


  « Livro de Sherry Jones é publicado nos EUA »
in Diário de Notícias, 8 de Outubro de 2008, < http://dn.sapo.pt/2008/10/08/artes/livro_ sherry_jones_e_publicado_eua.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

« Empresa alega falta de qualidade da obra, Porto Editora recusa editar romance sobre Maomé »
in Público, 15 de Setembro de 2008,  < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=13 42832 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

« Literatura: Romance sobre casamento de Maomé sai em Outubro por nova editora »
in « literatura pnet », 4 de Setembro de 2008, < http://www.pnetliteratura.pt/noticia.asp?id =95 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

« Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais polémicos do ano » in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

« Literatura: Porto Editora recusa editar romance sobre Maomé por “falta de qualidade” » in « Notícias.rtp.pt », 15 de Setembro de 2008,   < http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?arti cle = 363223&visual=26& tema=5 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2008).

« Livro polêmico sobre esposa de Maomé é lançado nos EUA »
in « BBC Brasil.com » < http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/0810 07_livromaome.shtml > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

« Casa do editor britânico da Gibson Square alvo de tentativa de fogo posto »
in Público, 29 de Setembro de 2008, < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=13 44287&idCanal=14 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).











[1] Tradução de uma citação do artigo « You Still Can't Write About Muhammad », in  The Wall  Street Journal , 6 de Agosto de 2008, < http://online.wsj.com/article/SB121797979078815073.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

[2]  « Casa do editor britânico da Gibson Square alvo de tentativa de fogo posto », in Público, 29 de Setembro de 2008,  < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1344287&idCanal=14 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
  
[3] Traduzido do artigo « Gibson Square buys Jewel of Medina for UK », in « Bookseller.com », 4 de Setembro de 2008,   < http://www.thebookseller.com/news/6332-gibson-square-buys-jewel-of-medina-for-uk.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009.)

[4] « Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais polémicos do ano », in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

[5] « Empresa alega falta de qualidade da obra, Porto Editora recusa editar romance sobre Maomé », in Público, 15 de Setembro de 2008,  < http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=13 42832 > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

[6] « Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais polémicos do ano », in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).
[7] « Porto Editora desiste de publicar ‘A Jóia de Medina’, um dos livros mais polémicos do ano », in « Bibliotecário de Babel », < http://bibliotecariodebabel.com/geral/porto-editora-desiste-de-publicar-a-joia-de-medina-um-dos-mais-polemicos-livros-do-ano/ > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

[8] « Livro de Sherry Jones é publicado nos EUA », in Diário de Notícias, 8 de Outubro de 2008, < http://dn.sapo.pt/2008/10/08/artes/livro_ sherry_jones_e_publicado_eua.html > (acedido em 19 de Fevereiro de 2009).

 [9] « The Jewel of Medina, a fictionalized version of the life of Lady Aisha, has reopened the debate on portraying Islam’s sacred figures », in   « Beaufort Books », 16 de Outubro de  2008, <  http://www.beaufortbooks.com/news.php?id=44 >   (acedido   em  19   de Fevereiro  de 2009).